quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

As Transformações Sociais e Culturais do Terceiro Quartel do Século XX

O porquê do dinamismo cultural de Nova Iorque no segundo pós-guerra

Dadas as tamanhas atrocidades cometidas durante o período da 2ª Guerra Mundial, entre 1939 e 1945 (quer fosse através do Holocausto na Alemanha quer através dos bombardeamentos atómicos, sendo exemplo disso o Japão), quando esta terminou acabou por provocar um sentimento de choque por parte da população ocidental.

É nesta sequência de ideias que a Europa se viu incapaz de resolver os problemas nela existentes: a falta de capacidades para assumir a liderança da política internacional nem do respetivo processo civilizacional; o bloqueio à criação por parte do Totalitarismo e, por fim, o facto de a Europa ter sido, mais uma vez, palco de guerra (o que conduziu à sua destruição).

Assim, e já tendo ajudado a Europa tanto a nível financeiro como económico em finais do século XIX, os Estados Unidos eram dos principais produtores e investidores mundiais graças:

- À tecnologia (que, por sinal, era bastante avançada);

- Ao contributo demográfico fruto das vagas de imigração europeia;

- À quase total liberdade de iniciativa.

Contudo, esta hegemonia Americana não foi um processo repentino: foi um processo que adveio do final da 1ª Guerra Mundial. E o mais impressionante é que nem a crise de 1929 nem a Grande Depressão de 1930 foram entraves à continuação da afirmação dos Estados Unidos. É assim que, e justificando a ideia descrita a negrito, os Estados Unidos criam, em 1947, o Plano Marshall, plano esse que tinha como finalidade ajudar a construir a Europa através de meios económicos. Já em termos políticos, a América propagou a sua influência até ao considerado bloco ocidental.

Foi através dos fatores acima mencionados que os Estados Unidos se assumiram como encaminhadores do Ocidente tanto a nível político, como económico e ainda a nível social e cultural.

Surpreendentemente, e sendo uma novidade na história da arte, o surgimento das novas correntes artísticas durante a segunda metade do século XX ocorreu em Nova Iorque, entrando em contradição com o que se ditava usualmente (as cidades de Paris, Berlim, Milão, Viena e Moscovo eram consideradas o foco das inovações artísticas), na medida em que as grandes alterações e as maiores polémicas do mundo da arte decorriam em Nova Iorque.


“Pensei que Nova Iorque era uma catástrofe cem vezes, e cinquenta vezes me disse a mim próprio que era uma catástrofe magnífica.”

- Le Corbusier


Com a importância cultural que os Estados Unidos tinham vindo a adquirir já desde o início do século XX e juntamente com a capacidade monetária por parte da burguesia, era desejada e necessária a promoção cultural. Deste modo, as classes com capitais mais elevados começaram a investir, ainda que de modo privado, na criação de galerias e grandes museus. Exemplo disso foi o contributo de Peggy Guggenheim, sobrinha de um conceituado colecionador, face à divulgação da arte europeia surrealista e abstrata assim como a dos pintores americanos, através da sua galeria Art of This Century, e ainda a inauguração do Museum of Non-Objectiv Art e o Museum of Modern Art, mais conhecido por MoMA.

Fig.1 – O MoMA

Esta atracão por Nova Iorque pode-se provar, efetivamente, pelo facto de esta ser sinónimo de liberdade de expressão, contrariamente às cidades de Berlim, Viena e Moscovo, cidades onde as correntes artísticas eram temidas e negadas tanto por Hitler como por Estaline. Assim, sendo Nova Iorque a nova capital cultural, era de esperar que recebesse artistas de renome e pensadores Europeus que escapavam aos regimes autoritários vigentes. Destacam-se as figuras do cientista Albert Einstein; da atriz Marlene Dietrich e do realizador Fritz Lang, sendo que acabaram por dar um enorme contributo à produção científico-cultural dos Estados Unidos.

Foi assim que, através da junção entre os artistas americanos e os artistas provenientes da Europa, surgiu a Escola de Nova Iorque, que assumiu a liderança da dinamização das artes no pós-guerra e ainda originou os movimentos vanguardistas do expressionismo abstrato.

A reflexão sobre a condição humana nas Artes e nas Letras

O expressionismo abstrato (1945-1960)

Na 2ª metade do século XX, num pós guerra caótico e vítima da ameaça nuclear, a arte expressa-se fruto da atitude da Humanidade face a este cenário. É assim que surge, nos Estados Unidos, o expressionismo abstrato.

Esta nova corrente assemelha-se a algumas vanguardas que marcaram a 1ª metade do século XX, na medida em que substituem o figurativismo pelo abstracionismo através da execução de formas e de aplicação de cor que, por sinal, são influenciadas tanto pelo surrealismo como pelo expressionismo. Deste modo, o termo “expressionismo abstrato” foi utilizado pela primeira vez pelo crítico Robert Coates que, considerando que este novo género de arte não o fascinava por representar “uma escola de salpicos e borrões”, o aplicou ironicamente. Sendo uma corrente que usava a “linguagem universal da abstração”, era vista com bons olhos por parte dos apreciadores de arte visto que, por não usar técnicas figurativas, não colocava a hipótese de fazer referência nem aos cânones estéticos do nazismo nem ao realismo socialista.

É assim que, nos anos 40 e 50, é criado um grupo que se sobressaiu por utilizar as técnicas do expressionismo abstrato. Apesar de estarem em concordância relativamente às tendências estéticas ditas comuns, por exemplo a rejeição da pintura sobre cavalete, os membros do grupo eram distintos graças aos seus diferentes pontos de vista visuais:


- Jackson Pollock (1912-1956) e Willem De Kooning (1914-1997): Foram os vultos do expressionismo abstrato que mais se destacaram entre 1940 e 1950 através do seu estilo intuitivo, da utilização das formas simbólicas e das cores vivas. O seu principal objetivo era que a obra espelhasse a criação e o gesto tanto descontraído como agressivo do artista.


Fig.2 – Obra de Jackson Pollock
Pollock e De Kooming eram inspirados tanto pelas teorias de Freud (nomeadamente a teoria Psicanalítica) como pelo Surrealismo, o que os levou a tentar alcançar o automatismo psíquico dos surrealistas. Assim, a pintura era uma prova da sensibilidade a nível individual e os factos ocorridos na vertente psicológica do artista, como os sonhos, os pesadelos e os traumas, não eram sujeites à racionalidade, fazendo com que se alcançasse os impulsos que vivem nas profundezas do inconsciente.

“Quando estou a pintar não tenho consciência do que faço. Só depois de uma espécie de 'período de familiarização' é que vejo o que estive a fazer".

- Jackson Pollock

É nesta ordem de ideias que, em 1952, o crítico Harold Rosenberg atribui uma expressão deveras particular a este novo estilo de expressionismo abstrato utilizado pelos dois artistas: action painting, que significa pintura de ação (o que traduz a exactidão deste ato de pintar).
Fig.3- Obra de Jackson Pollock
 
Esta expressão acaba por se entender melhor através das técnicas particulares de Pollock. Este, tal como já referi anteriormente, não era adepto do cavelete. Contudo, e sabendo que prescindia também da paleta e dos pincéis, Pollock colocava a tela no chão e escorria a tinta para esta enquanto corria em cima e à sua volta. Depois, espalhava com paus e trapos uma junção entre diferentes tintas, areia e pedaços de terra. Este processo, sendo uma técnica da action painting, designa-se por drip painting que, tal como já expliquei, faz com que a tinta seja vertida através de fortes movimentos efetuados tanto pelas mãos como pelo corpo.

Sendo uma técnica totalmente aleatória, nunca permitia que o artista soubesse o resultado final. É este motivo que leva a que a maior parte dos quadros elaborados através desta técnica não tenham nome, sendo intitulados apenas com um número ou por vezes nem isso.

Este género de quadros só eram considerados reais quando o observador os contemplava e interpretava, facto que se demonstra atual na medida em que as obras do expressionismo abstrato, quando são submetidas à observação, são aquilo que os observadores vêem independentemente da pessoa que sejam ou do momento no qual se encontram.

Fig.4 – Obra de Willem De Kooning

- Mark Rothko (1903-1970): Salientou-se graças à criação de colour fields, que significa “véus de cor sobrepostos” marcados pela ausência de uma linha de diferenciação rigorosa.

Fig.5 – Obra de Mark Rothko
- Ad Reinhardt (1913-1967): Dedicou-se à criação de campos de cor uniformizada cujo intuito é sobrepor a limpidez à emotividade.

Fig.6 – Obra de Ad Reinhardt

- Barnett Newman (1905-1970): Tem como inspiração o pintor Holandês Piet Mondrian e as suas obras são marcadas pelas cores puras.

Fig.7- Obra de Barnett Newman
Apesar de Pollock e De Kooning terem optado pela abstração lírica e expressiva, Newman, Rothko e Reinhardt optaram pela abstração geométrica. Estes últimos adornavam as telas com substâncias cromáticas, claras e planas cujo objetivo era o efeito da pintura pura. Era negado o estudo do estado de espírito do pintor ou até mesmo o seu processo de criação. Consideravam fundamental que o observador se concentrasse na obra, sendo este o seu único dever.


A Pop Art (1958-1965)

Tal como os termos anteriormente mencionados, também este foi aplicado por um crítico de seu nome Lawrence Alloway. A Pop Art, que significa “arte popular”, surgiu ao mesmo tempo nos Estados Unidos e no Reino Unido. Contudo, estando os EUA num período de auge artístico, tal como já referi, foi um incentivo à sua experimentação mais do que em qualquer outro país.

Fig.8- Obra de Andy Warhol
Assim, e contrariamente à corrente abstracionista que se encontrava em vigor durante o pós-guerra (o seu carácter subjetivo dificultava a sua interpretação), a Pop Art pretendia que a arte fosse, de novo, apreciada pelas massas.
Esta nova corrente tinha como propósito aproximar-se tanto da cultura como dos meios de comunicação da sociedade de consumo e da cultura de massas, usando alguns dos seus elementos e objetos, com o intuito de impressionar o observador em função da apresentação destes. É assim que este tipo de quadros se tornam na nova publicidade, facto que conduziu a um clima de rivalidade com os media. Exemplos disso são as pinturas das garrafas de vidro da marca Coca-Cola ou até mesmo da conceituada marca de sopa Campbell’s, os retratos de artistas e pessoas famosas, que contribuíam cada vez mais para a promoção da imprensa, do cinema e da televisão.

Destacam-se, deste modo, os seguintes vultos:






                - Andy Warhol (1928-1987): É conhecido por ser o representante da Pop Art nos Estados Unidos, facto que se justifica talvez por se ter iniciado profissionalmente como desenhador publicitário. Sendo que não apreciava as técnicas do expressionismo abstrato, optou por se aproximar das massas e reproduzir o seu quotidiano no que lhe fosse possível. Assim, e acabando por retratar uma sociedade marcada pelos meios de informação e pelos artigos de grande consumo, foi alvo de um estudo intitulado de “Estudo Psicológico e Sociológico da Próspera Sociedade Americana dos Anos 60”.
Warhol acabou por transformar objetos consumidos diariamente pelas massas em arte. Além disso, começou a usar técnicas até à data nunca utilizadas pois eram desvalorizadas: a serigrafia e a fotografia. É com estas técnicas que Warhol imprimia fotografias nas telas fazendo com que houvesse uma revolução no tradicionalismo, já que se considerava que o valor da arte era como um objeto único que não se podia reproduzir.
Tal como o seu colega Roy Lichtenstein, Warhol pretendia acrescentar uma crítica irónica face aos ideais levados a cabo pela sociedade americana.


Fig.9- Obra de Andy Warhol

                -Roy Lichtenstein (1923-1997): Tal como os princípios da Pop Art enunciam, Lichtenstein assume a tendência de banalizar a arte, identificando-se assim com os media. A sua técnica de distinção é a transposição para a tela de imagens ampliadas de banda desenhada que posteriormente pinta. É graças à ampliação das imagens que obtém um efeito deveras técnico onde se verifica o espesso contorno gráfico e o pontilhismo.

Fig.10- Obra de Roy Lichtenstein
 
            -Richard Hamilton (1927): É através deste artista que a Pop Art assume uma posição de distanciamento face ao expressionismo abstrato na medida em que ocorre a introdução do sentido de humor de vertente um pouco provocadora. Apesar de usar os mesmos processos de impressão de Warhol e Lichtenstein, usa também as colagens e objetos considerados comuns.
Fig.11- Obra de Richard Hamilton

A Arte Conceptual nos anos 60 e 70


Fig.12- Obra de Yves Klein
À semelhança de uma corrente já estudada previamente, o Dadaismo, a arte conceptual foi criada nos moldes deste. Assim, e sabendo que segundo Duchamp (dadaísta) havia uma superioridade do pensamento do artista face à execução da obra, a arte conceptual menosprezou a existência material da arte.

Ao contrário das correntes explicitadas acima, a Pop Art e o Expressionismo Abstrato, na primeira pelo seu lado austero e na segunda pelo seu lado racional, o foco da arte conceptual é o processo artístico, sendo que a figura que se destaca é Yves Klein (1928-1962) quando sugeriu uma exposição totalmente vazia. Assim, tanto o debate do que antecede a produção do objeto de arte como a produção em si se tornam fundamentais. Para que o pensamento do artista ficasse documentado, utilizava-se a escrita e a fotografia, aumentando assim a categoria das obras.

Já que a arte conceptual rejeitava os princípios das correntes artísticas acima referidas, dedicou-se à reflexão filosófica, procurando assim um rumo, mas sempre sem provocar qualquer apreciação a nível estético ao observador. Destaca-se, então, sendo um tipo de arte marcada pelo facto de, antes de ser apreciada, deve ser pensada, princípio que os artistas Joseph Kosuth (1945) e Piero Manzoni (1934-1963) defendem e que se encontra explícito nas suas obras.

Fig.13- Obra de Joseph Kosuth

Fig.14- Obra de Piero Manzoni
Klein, Kosuth e Manzoni defendem, ainda, a reflexão relativamente ao processo de representação de uma hipotética realidade física.



A Literatura Existencialista no contexto dos anos 40 e 50 do século XX

Antes de mais é necessário explicitar a definição de Existencialismo. O existencialismo foi uma corrente evidentemente filosófica que emergiu na Europa no período decorrente entre o 1º e 2º conflitos mundiais. Tem como princípios a centralização da reflexão na liberdade individual na medida em que favorece a existência como experiência pessoal e não como contributo do ser.
Após o término da 2ª Guerra Mundial a destruição da arte foi considerada uma obra majestosa do espírito humano pelas correntes artísticas. Isto verifica-se pois, o expressionismo abstrato (pela sua conduta instintiva e por vezes aleatória), a Pop Art (por banalizar a arte na medida em que a acercou de qualquer artigo de consumo diário) e a arte conceptual (sendo que retirou à arte toda a sua visibilidade) eram consideradas vanguardas que não seguiam os padrões tradicionais de arte.
Assim, e estando a literatura a sofrer um período de destruição e vazio entre 1940 e 1950, foi equiparada à crise que o antropocentrismo tivera dentro de moldes semelhantes. Tal como já referi previamente no meu trabalho do período passado, que se encontra aqui, o Realismo era marcado pelas preocupações sociais por ele vividas. Contudo, agora no contexto de um mundo que durante somente 20 anos foi vítima de duas Guerras Mundiais, de atentados à Humanidade como o Holocausto (na Alemanha) e da eminência das bombas atómicas (que atingiram o Japão), tais preocupações pareciam descabidas.
A enfatização do sentido da existência humana era então influenciada pela filosofia existencialista. É no âmbito deste tema que filósofos como Karl Jaspers (1883-1969), Martin Heidegger (1883-1976) e, principalmente, Jean-Paul Sartre (1905-1980) se opõem ao racionalismo cartesiano. É assim que afirmam que, antes de o indivíduo pensar, existe.

Excerto da obra “O Existencialismo é um Humanismo”:

[…]“O homem faz-se; não está realizado logo de início, faz-se escolhendo a sua moral, e a pressão das circunstâncias é tal que não pode deixar de escolher uma. Não definimos o homem senão em relação a um compromisso […] sempre que o homem escolhe o seu compromisso e o seu projeto com toda a sinceridade e lucidez...
Quando declaro que a liberdade, por meio de cada circunstância concreta, não pode ter outro fim senão querer-se a si própria, se alguma vez o homem reconheceu que estabelece valores no seu abandono, já não pode querer senão uma coisa - a liberdade como fundamento de todos os valores. Não significa que a queira em abstrato. Quer dizer simplesmente que os atos dos homens de boa-fé têm como último significado a procura da liberdade enquanto tal. Um homem que adere a tal sindicato comunista ou revolucionário quer fins concretos; estes fins implicam uma vontade abstrata da liberdade; mas esta liberdade quer-se em concreto. Queremos a liberdade pela liberdade e por meio de cada circunstância particular. E, ao querermos a liberdade, descobrimos que ela depende inteiramente da liberdade dos outros, e que a liberdade dos outros depende da nossa.” […]

-Jean Paul Sartre


(Entrevista a Sartre)

Segundo Satre, “A existência precede a essência”, frase que explica o significado de existencialismo. Deste modo, e de acordo com esta corrente filosófica, o Homem não existe para ser obrigado a cumprir um determinado destino que lhe pode ser tanto exterior como interior – até porque existe muito antes de tal.
No período entre os anos 40 e 50, o existencialismo ganhou um maior número de adeptos. É assim que são elaboradas diversas obras literárias, nomeadamente de Sartre, Simone de Beauvoir (1908-1986) e Albert Camus (1913-1969), marcadas pela existência, pelo nada, pela culpa, pela morte e pelo absurdo. Outras áreas também foram influenciadas pelos ideais existencialistas, como por exemplo: a Psicologia, a Psiquiatria, o cinema, a música (o Jazz, através do seu poder de improviso) e as artes plásticas. Já a nível social, surpreendentemente, houve uma mudança nas mentalidades dado que os modos de vida foram alterados e até houve uma iniciativa à crítica do tradicionalismo, fazendo com que, inevitavelmente, se tentasse alcançar a liberdade, liberdade essa que fora tão defendida por Sartre.

Síntese


Fontes consultadas

Documento e citações:

Imagens:
·         Google Imagens

Vídeo:

Texto:
·         PINTO DO COUTO, Célia e MONTERROSO ROSAS, Maria Antónia – O Tempo da História A 12º ano;
·         Porto Editora – Guia de Estudo: História A 12º ano



Trabalho elaborado por: Francisca Vasconcelos nº16

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